terça-feira, 29 de julho de 2014

CARTA AO MINISTRO DO MCTI, CLELIO CAMPOLINA DINIZ


Excelentíssimo Ministro da República
Clelio Campolina Diniz
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
70067-900 – Brasília – DF
São Paulo, 28 de julho de 2014

Excelentíssimo Senhor Ministro,

Recentemente fomos surpreendidos por uma notícia anunciada na mídia internacional e nacional (http://blogs.nature.com/news/2014/07/sao-paulo-state-joins-megatelescope.html) de forte repercussão para a comunidade astronômica brasileira sobre possíveis negociações do MCTI para dividir os custos de U$ 40 mi do Giant Magellan Telescope (GMT), projeto aprovado pela FAPESP. A Diretoria da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) foi questionada sobre estas negociações e, desconhecendo o assunto, contatou pesquisadores e lideranças das principais Unidades de Pesquisa do MCTI (LNA, ON, INPE), mas infelizmente estes também desconheciam o teor do acordo e a situação do mesmo.

Embora não restem dúvidas quanto aos benefícios que a adesão a este telescópio trará aos pesquisadores do Estado de São Paulo, alertamos que este assunto não foi discutido em nível nacional e suas implicações aferidas pelos astrônomos brasileiros dentro de um Plano Nacional de Astronomia. Durante a XXXVIII Reunião Anual da SAB, promoveremos uma Mesa Redonda sobre os Grandes Telescópios, a realizar-se às 19 h em 1o de setembro de 2014 no Hotel Atlântico, em Armação de Búzios, RJ. Gostaríamos de convidar V.Ex.a para participar desta mesa redonda. Antecipamos que um total de 300 astrônomos profissionais participarão desta reunião.

Como é do conhecimento de V.Ex.a, o acordo de adesão do Brasil à Organização Europeia de Pesquisa Astronômica no Hemisfério Austral (ESO, European Southern Observatory), foi um projeto amplamente discutido em nível nacional e apoiado por mais de 80% da comunidade astronômica brasileira. Entretanto este projeto, com pleno apoio do MCTI desde 2010,  se encontra no congresso desde fevereiro de 2013 aguardando ratificação.

No intuito de impulsionar este processo, em 4 de junho, houve uma reunião de representantes da SAB com a Secretária Executiva do MPOG, Eva Maria Dal Chiavon, Dep. Jorge Bittar (PT-RJ) e Hudson Mendonça (MCTI). Nesta reunião decidiu-se que o MCTI prepararia uma contra proposta para uma renegociação do valor do acordo ESO, considerado alto pelo MPOG. Porém até o presente momento, ainda não tivemos notícias sobre o andamento das negociações, sobre as quais aproveito para indagar a respeito.

Coloco-me novamente à disposição e muito nos honraria a possibilidade de aprofundar essa série de argumentos com V.Exa., em ocasião de sua conveniência.


Certa de poder contar com a sua colaboração, agradeço a atenção e subscrevo-me cordialmente,

Adriana Válio
Presidente
Sociedade Astronômica Brasileira

segunda-feira, 28 de julho de 2014

GRUPO FAZ MAPEAMENTO DETALHADO DA MATÉRIA ESCURA DO UNIVERSO

Um grupo internacional de pesquisadores acaba de concluir um mapeamento detalhado da distribuição da misteriosa matéria escura pelo Universo. Ninguém sabe exatamente do que ela é feita, o que se torna ainda mais constrangedor diante do fato de que a matéria escura responde por 80% de toda a matéria do Cosmos.

Os novos resultados parecem apoiar o modelo mais popular entre os cientistas, segundo o qual a matéria escura é composta por partículas que se movem a velocidades muito inferiores às da luz e que, apesar de ter massa, interagem muito fracamente com a matéria convencional. Contudo, o estudo ainda está longe de ser capaz de discriminar de forma definitiva entre os diversos modelos cosmológicos possíveis.

"Ainda há muitas alternativas que se encaixam", disse à Folha Martín Makler, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) que participou do trabalho, publicado no periódico "Monthly Notices of the Royal Astronomical Society".


O MAPA DO INVISÍVEL

Não é trivial realizar um mapeamento de uma forma de matéria que não emite luz e, portanto, é invisível. Os cientistas precisam recorrer ao único efeito detectável produzido pela matéria escura: a gravidade que ele exerce sobre os objetos visíveis. Em particular, o grupo, que tem pesquisadores da Suíça, da França, do Canadá, da Alemanha e do Brasil, explorou um fenômeno que foi primeiro previsto pela teoria da relatividade geral, de Albert Einstein: as lentes gravitacionais. 

É a ideia de que um corpo celeste mais próximo que esteja entre nós e outro objeto mais distante faz com que os raios de luz do objeto afastado se curvem suavemente, do mesmo jeito que a refração de uma lente convencional faz. Como a matéria escura representa muito mais massa do que a convencional, seu efeito nas lentes gravitacionais é pronunciado. Ao detectar as distorções nos caminhos da luz, é possível estimar a quantidade de matéria escura no espaço que separa o objeto mais distante de nós. O resultado do esforço, feito com o Telescópio Canadá-França-Havaí, é um mapa bidimensional sem profundidade, portanto da distribuição da matéria escura, que cobre uma faixa do céu com 170 graus quadrados de área.

RESOLUÇÃO

Uma das novidades importantes do novo estudo é que os pesquisadores incluíram no mapa as concentrações não muito grandes de matéria escura _os chamados picos baixos. "Com isso ganhamos muito mais 'objetos' e, portanto, precisão na medida", destaca Makler. O resultado também traz consigo novos mistérios. Os pesquisadores encontraram por exemplo alguns picos que não correspondem a grupos e aglomerados de galáxias. Ou seja, os "objetos" que teriam curvado os raios de luz seriam 100% escuros, sem matéria convencional.

É um achado intrigante, de forma que os cientistas agora estão concentrados em confirmar que esses picos são reais. "Se não há galáxias ou aglomerados associados, isso teria fortes implicações para a cosmologia, no nosso conhecimento sobre a formação de estruturas no Universo", afirma o pesquisador. Importante lembrar que o estudo também ajuda a desvendar a outra metade do mistério da cosmologia moderna: a energia escura. Trata-se de uma força que está acelerando a expansão do Universo, agindo contrariamente à gravidade, e que ninguém, no momento, sabe exatamente o que é.

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/07/1492049-grupo-faz-mapeamento-detalhado-da-materia-escura-no-universo.shtml

domingo, 27 de julho de 2014

RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO (1935-2014)


É com grande pesar que comunicamos o falecimento de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão nesta sexta-feira, 25 de julho de 2014 aos 79 anos. Um dos mais importantes astrônomos brasileiros, dedicou-se incansavelmente à divulgação de Astronomia. Com centenas de artigos publicados para o público geral, inspirou gerações de jovens astrônomos. Idealizador e fundador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), no Rio de Janeiro em 1984, sua área de atuação profissional era em estrelas duplas e objetos do Sistema Solar. Foi também um dos fundadores da Sociedade Astronômica Brasileira em 1974, tendo permanecido nosso associado por 40 anos até a última sexta-feira. Sem dúvida, uma enorme perda para a astronomia brasileira.

Adriana Valio
Diretoria da SAB


Transcrevemos abaixo a mensagem de Pierre Kaufmann em homenagem a Ronaldo Mourão.


O Brasil perde um dos seus maiores promotores de ciência, e da astronomia em especial. No início dos anos 60, Ronaldo, como astrônomo, foi dos primeiros a obter resultados com repercussão internacional. Depois se destacou com talento e conhecimento em história da ciência e da astronomia, promovendo com maestria sua popularização e divulgação. Conseguia motivar as pessoas de forma única, atrativa, apaixonada, sem nunca transigir com o rigor que a ciência requer, cativando gerações de admiradores e interessados em todos os níveis de educação e de idade. Muitos se tornaram astrônomos profissionais. Eu perdi um amigo. A comunidade perdeu uma de suas mais extraordinárias personalidades, a quem se deve um enorme tributo de reconhecimento por todas suas contribuições em ciência e sua disseminação.

Pierre Kaufmann

MARCELLE SOARES-SANTOS RECEBE PRÊMIO ALVIN TOLLESTRUP 2014


A astrônoma brasileira Marcelle Soares-Santos recebeu o Prêmio Alvin Tollestrup 2014, concedido pela Associação de Universidades de Pesquisa dos Estados Unidos a trabalhos de destaque feitos por pós-doutorandos no Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab), laboratório norte-americano de física de partículas de altas energias. 

 









Doutora em astronomia pela Universidade de São Paulo, Marcelle está no Fermilab desde 2010 e foi reconhecida por suas contribuições ao estudo da energia escura. Sua pesquisa de pós-doutorado se concentra no projeto Dark Energy Survey (DES), cujo objetivo é observar 300 milhões de galáxias e usá-las para determinar a evolução da expansão do Universo. “Eu contribuí para a construção e instalação da câmera do DES, a DECam”, diz Marcelle, referindo-se à câmera, peça-chave do projeto, em funcionamento desde 2012 no telescópio Blanco, localizado no Cerro Tololo Inter-American Observatory, no Chile. Sua pesquisa também busca contribuir para esclarecer a questão da energia escura, forma hipotética de energia que estaria distribuída por todo o espaço. “Desenvolvi um método para detectar aglomerados de galáxias e uso esse método para estudo da energia escura”, explica. “Marcelle trabalha com dados para desenvolver novas maneiras de entender a formação do universo”, disse Brenna Flaugher, chefe do departamento de astrofísica do Fermilab.

Pesquisa FAPESP - Edição 221, Julho 2014

quarta-feira, 9 de julho de 2014

TELESCÓPIO ESPACIAL KEPLER DESCOBRE NOVAS ESTRELAS GÊMEAS DO SOL

Usando o telescópio espacial Kepler, da NASA, uma equipe internacional de cientistas liderada  pelo astrônomo brasileiro José-Dias do Nascimento Jr. anuncia nesta quinta-feira uma nova amostra de estrelas gêmeas solares com idades determinadas. do Nascimento é cientista do Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics, e professor no  Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (DFTE, UFRN, Brasil). 
Uma estrela Gêmea solar deve ser...
Definir o que determina se uma estrela é do “Tipo Solar” é tão difícil quanto definir o que faz com que um planeta seja "semelhante à Terra". Uma estrela Gêmea solar deve ter uma temperatura, massa e tipo espectral semelhante ao nosso Sol. Desejaríamos também que ela tivesse uma idade de cerca de 4,5 bilhões de anos. No entanto, é notoriamente difícil de medir a idade de uma estrela e os astrônomos costumam ignorar a idade no momento de decidir se uma estrela pode ser considerada ou não como uma estrela do “Tipo Solar”.
Uma nova técnica para medir a idade de uma estrela usando seu Spin – girocronologia - está entrando neste campo. Hoje estes astrônomos estão apresentando as idades girocronologicas para 22 estrelas semelhantes ao Sol. Anteriormente, apenas duas estrelas semelhantes ao Sol tinha medidas de seus Spins e idades.
“Nós descobrimos estrelas com propriedades que são próximas o suficiente das propriedades do Sol e para as quais nós podemos chamá-las de “Gêmeas Solares", diz o autor José-Dias do Nascimento, do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics (CfA). 
"Com estas Gêmeos solares, nós podemos estudar o passado, o presente e o futuro das estrelas como o nosso Sol. Consequentemente, podemos prever como os sistemas planetários como o nosso sistema solar será afetado pela evolução de suas estrelas centrais ".
Para medir a rotação de uma estrela, os astrônomos observam as mudanças em seu brilho causadas por manchas escuras conhecidas como manchas estelares,  que cruzam a superfície da estrela. Ao observar quanto tempo leva uma mancha para girar em torno da estrela, com referência a linha de observação, medimos o quão rápido uma  estrela está girando.
A variação da luminosidade de uma estrela, devido as manchas estelares é muito pequena, tipicamente de uma parte em mil. O Satélite Kepler da NASA é um excelente instrumento para realizar  tais medições muito exigentes  do brilho. Usando o satélite Kepler da NASA, do Nascimento e seus colegas descobriram que as estrelas semelhantes ao Sol tem sua rotação em média,  da ordem de uma volta a cada 21 dias, em comparação com o período de rotação de 25 dias do nosso Sol, quando medido no seu equador. 
Muito parecido com os seres humanos,estrelas mais jovens girar mais rápido do que as estrelas mais velhas, ou seja as estrelas acalma-se à medida que envelhecem. Como resultado, a rotação de uma estrela pode ser usado como um ótimo relógio e assim revelar a idade. Como a maioria das estrelas que a equipe detectou, tem rotação ligeiramente mais rápida que o nosso Sol, eles concluem que estas devem ser ligeiramente mais jovens também.
Este trabalho expande pesquisas anteriores feitas no CfA pelo astrônomo (e co-autor do novo estudo) Søren Meibom. Meibom e seus colaboradores mediram as taxas de rotação de estrelas em um aglomerado de idade 1 bilhão de anos, chamada NGC 6811. Como estas estrelas tinham uma idade conhecida, os astrônomos puderam usá-las como calibrador do relógio girocronológico. A nova pesquisa liderada pelo Dr. do Nascimento examina estes dados em estrelas que estão flutuando no campo da Galáxia, e que não são membros de nenhum cluster particular.
Visto que as estrelas e os planetas se formam em conjunto e ao mesmo tempo, sabemos que descobrindo a idade de uma estrela revelamos a idade de seus planetas. E uma vez que é preciso tempo para que a vida se desenvolva e evolua, sabendo as idades de estrelas centrais de exoplanetas poderemos ajudar a focar nos melhores alvos na pesquisar que revelará sinais de vida alienígena. Apesar de nenhuma das 22 estrelas no novo estudo revelarem planetas detectáveis, este trabalho representa um importante passo na busca por estrelas semelhantes ao Sol que poderiam hospedar planetas semelhantes à Terra.
Os resultados serão publicação no Astrophysical Journal Letters (astro-ph), com destaque nas páginas Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics (CfA) e no Laboratoire AIM, CEA, Univ. Paris Diderot, Saclay, France-Saclay, França.

Para mais informações, contato:
José-Dias do Nascimento Jr (autor)
+1 (617) 314-3328
donascimento@cfa.harvard.edu