quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Contribuição à Comissão Especial de Astronomia - Lista de problemas e propostas de soluções

por Basílio Santiago (postado no Fórum da SAB em 12/11/09)

Problema 1

Há pulverização de recursos humanos e financeiros entre diversas unidades de pesquisa do MCT. A maior delas em termos de pessoal, o ON/MCT, não tem papel de provedor de serviços à pesquisa em Astronomia no país. Tal tarefa está concentrada no LNA, que tem pessoal restrito. Essa distorção de gerenciamento de RH no MCT precisa ser corrigida, em benefício de todos. O INPE, pelas suas características, também pode assumir papéis de gerenciamento de recursos disponibilizados para pesquisa na área nacionalmente.

Proposta 1.1

Primeiramente, é necessária a criação de uma comissão ou fórum permanente, de natureza advisória, que promova o diálogo constante entre as direções das diferentes unidades de pesquisa (UPAs) do MCT ligadas à área. Uma das funções deste forum seria a de mediar a interação entre as UPs, promovendo uma maior coordenação de ações e contribuindo para a mediação de conflitos e problemas. Tal órgão deve ser sediado em Brasília, não apenas pela proximidade com as instâncias decisórias do MCT, mas também para valorizar sua natureza de comissão intraministerial com abrangência nacional. Detalhes quanto à frequência de reuniões, atribuições, composição, etc, precisariam ser discutidos.

Proposta 1.2

Atribuir ao ON uma participação efetiva no gerenciamento de recursos à Astronomia observacional óptica/infra-vermelha nacional. Um possível exemplo: atribuir-lhe o encargo de prover serviços de software (portais científicos, Observatórios Virtuais, bases de dados, etc) de uso pela comunidade nacional, deixando com o LNA a tarefa de gerir recursos de hardware, inclusive o desenvolvimento instrumental. A atribuição de desenvolvimento de projetos nacionais de Astronomia espacial caberia ao INPE, ficando o MAST com as
responsabilidade de preservação e pesquisa de acervos históricos e de articulação de ações de divulgação da Astronomia. Estas atribuições teriam que ser negociadas no âmbito do MCT e não necessariamente impõem exclusividade de ação. Elas certamente trarão o benefício de fazer melhor uso dos recursos humanos disponíveis do MCT, evitando os gargalos de prestação de serviço que ocorrem atualmente.

Problema 2

Está em curso uma mudança global de paradigma na pesquisa observacional. Grandes bases de dados, de propósitos múltiplos, envolvendo telescópios dedicados e colaborações internacionais, estão abrindo espaço em meio aos métodos tradicionais de coletas de dados, via projetos com investigador principal utilizando um único telescópio/instrumento. O Brasil precisa acompanhar essa mudança.

Proposta 2.1

São necessários investimentos de recursos materiais e humanos que garantam não apenas o acesso, mas a participação brasileira em projetos de geração de grandes bases de dados, como as diferentes versões do SDSS, o DES, o LSST, etc. Tais projetos têm aplicações múltiplas, sendo portanto importantes para atender à grande diversidade de áreas de pesquisa em que astrônomos brasileiros estão envolvidos.

Proposta 2.2

As decisões estratégicas devem levar fortemente em conta essa mudança de paradigma. Será um grande erro investir dinheiro e recursos humanos apenas para ampliar a participação brasileira em diferentes telescópios/instrumentos, sem buscar diversificar e modernizar as formas de uso/distribuição do tempo nestes telescópios.

Problema 3

Outra movimentação clara da pesquisa internacional são os ambiciosos projetos instrumentais em implementação e planejamento. Novamente, estes projetos envolvem múltiplos países e institucões, além de grandes somas de dinheiro. O Brasil precisa buscar inserir-se nesses projetos instrumentais de grande porte.

Proposta 3.1

Em especial, o Brasil deve buscar ser parceiro em grandes projetos internacionais de instrumentação no domínio óptico e infra-vermelho, como os ELTs, dada a concentração de pesquisadores que usam estes domínios espectrais. Estrategicamente, a inserção do país deve se dar através de projetos instrumentais internacionais que estejam abertos a estabelecer sistemas de troca de tempo com outros projetos de porte semelhante e que sejam complementares entre si. Somente dessa forma será possível à comunidade brasileira utilizar os melhores instrumentos disponíveis e cobrindo uma gama variada de recursos. Implementado tal sistema, algo que o Brasil deve encorajar nas suas parcerias, os pesquisadores do país terão acesso a maior diversidade instrumental de ponta, mesmo com participação modesta em termos de fração de tempo disponível.

Problema 4

O OPD é um sítio astronômico de qualidade abaixo da média, com forte sazonalidade em termos de eficiência, e com instrumentos obsoletos. O uso do OPD nos moldes de um observatório tradicional, com missões curtas e envolvendo grande circulação de pesquisadores, exige uma infraestrutura que está começando a tornar-se onerosa em comparação aos resultados científicos. Este ônus se dá na forma de passagens e diárias, além da necessidade de manter-se alojamentos e infraestrutura de alimentação, transporte, etc.

Proposta 4.1

É necessário reformular o funcionamento do OPD, reduzindo custos de infraestrutura. Projetos grandes, otimizados para a instrumentação disponível e para os meses de outono e inverno, envolvendo observação remota ou em modo serviço, permitirão reduzir despesas com viagens, alojamento e infraestrutura, explorando melhor os recursos instrumentais e as características do sítio. Em meses menos adequados para observação profissional, sugere-se que o OPD seja
mantido com staff mínimo, usado para:
  1. divulgação científica: visitação pública ao sítio, eventual observação noturna; 
  2. uso didático dos instrumentos: manuseio, presencial ou remoto, dos telescópios e detectores, com eventual uso noturno, mesmo que as condições não sejam adequadas para obtenção de dados de qualidade científica.

Problema 5

Grande parte da comunidade de astrônomos brasileiros trabalha fora do MCT, mas é usuária das condições e serviços que o MCT oferece. É fundamental, portanto, que haja permanente diálogo interministerial nesta área, assim como em outras que compartilham dessa característica.

Proposta 5.1

Criação de uma câmara inter-ministerial de pesquisa, com atribuições deliberativas, envolvendo representantes da Fazenda, MinC, MEC e MCT, entre outros. Tal câmara promoveria um diálogo constante entre as comunidades de pesquisadores nestes diferentes ministérios, visando à racionalização de recursos destinados à pesquisa, inclusive de Astronomia. É importante lembrar que a maior parte da comunidade científica, astronômica inclusive, está nas IFES/MEC, mas com participação ainda não institucionalizada nas políticas de investimento e gerenciamento de recursos do MCT.

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